domingo, 22 de março de 2020

"NÃO ESQUEÇA DO HOMEM DA CRUZ."

Lembro-me de quando morava com minha bisavó Sinhá (in memorian) dela sempre fazer recomendações a todos, em especial a tia Luzia (in memorian). Mãe como a chamávamos sempre dizia: "Olhe lá não se esqueça do homem da cruz...". E durante muito tempo eu não entendi o seu real significado, mas com o passar dos anos fui juntando as peças. Nascida e criada segundo os costumes cristão do catolicismo ela fez dos ensinamentos bíblicos um padrão de vida e os transmitiu aos seus descendentes e assim me mostrou quem era o tal "homem da cruz", este era nada mais nada menos do que alguém que batia a sua porta em busca de um prato de comida pra si ou para seus filhos, aquele que mais cedo ou mais tarde precisava de uma ajuda.
Sendo assim ela nos ensinou que jamais devemos nos esquecer "do homem da cruz"

Texto e foto: Prof. André Almeida, 2020

TU TE AQUETA!

Antônio Conselheiro

Em conversa com um primo de 4º grau o Migdônio Neto residente em Araci, Ba ele me contou uma história um tanto quanto pitoresca se analisarmos os fatos e as possíveis provas. Ele me disse:
"Tem um livro chamado A guerra do fim do mundo de Mario Vargas Llosa que é um romance histórico sobre a Guerra de Canudos. Aí tem um capítulo que se passa em Nova Soure que é a passagem de Antônio Conselheiro lá em Nova Soure. Praticamente começou a guerra lá. Não sei esse personagem realmente existiu ou se foi só do romance que ele escreveu que é chamado Leão de Natuba, que quando ele passa pra lá tinha um sujeito que era meio baixinho, cabeçudo e aí parecia uma espécie de leão, era algo anormal e aí era todo marginalizado quando Antônio Conselheiro passou por lá esse rapaz está quase sendo morto por uma acusação lá, só sei que Conselheiro consegue salvar ele e ele acompanha o Conselheiro pra Canudos aí tem uma boa parte que passa em Nova Soure".
Consegui uma cópia do trabalho de Vargas Llosa e pude dar uma lida em trechos que tratam do tal sujeito e assim pude perceber que o Leão de Natuba pertence ao círculo mais próximo ao Conselheiro, e tendo aprendido a ler quase sobre-naturalmente, é quem lhe registra todas as palavras, é o escriba de Canudos e é um indivíduo deformado, que anda como um animal, utilizando pés e mãos (seu maior mal, no entanto, é não ter fé).

"O Leão de Natuba. Outro íntimo, outro apóstolo do Conselheiro. Lia, escrevia, era o sábio de Canudos." (Mário Vargas Llosa)

Trecho do Livro A Guerra do Fim do Mundo

"Por isso tampouco ele conseguia dormir. O que ocorreria? Outra vez a guerra estava próxima e, agora, seria pior que quando os escolhidos e os cães se enfrentaram em Tabolerinho. Brigaria nas ruas, haveria mais feridos e mortos e ele seria um dos primeiros a morrer. Ninguém viria salvá-lo, como o tinha salvado o Conselheiro de morrer queimado em Natuba. Por gratidão tinha partido com ele e por gratidão continuava preso ao santo, saltando pelo mundo, pese ao esforço sobre-humano que para ele, deslocando-se a quatro patas, significavam essas longuíssimas travessias. O Leão entendia que muitos tivessem saudades daquelas aventuras. Então eram poucos e tinham ao Conselheiro exclusivamente para eles. Como mudaram as coisas! Pensou em quão milhares o invejavam por estar dia e noite junto ao santo. Entretanto, tampouco ele tinha ocasião já de falar a sós com o único homem que o tinha tratado sempre como se fosse igual à outros. Porque nunca tinha notado o Leão o mais ligeiro indício de que o Conselheiro visse nele a esse ser de espinhaço curvo e cabeça gigante que parecia um estranho animal nascido por equívoco entre os homens. Recordou essa noite, nos subúrbios do Tepidó, fazia muitos anos. Quantos peregrinos havia ao redor do Conselheiro? Depois das rezas, tinham começado a confessar-se em voz alta. Quando lhe tocou o turno, o Leão de Natuba, em um arrebatamento impensado, disse de repente algo que ninguém lhe tinha ouvido antes: [Eu não acredito em Deus, nem na religião. Só em si, pai, porque você me faz sentir humano]. Houve um grande silêncio."

Fonte: Livro A Guerra do fim do mundo, Mário Vargas Llosa
IMAGEM: http://www.centrosabia.org.br/noticia/a-fe-na-defesa-da-vida-e-dos-biomas-brasileiros-antonio-conselheiro-padre-cicero-e-padre-ibiapina

Texto: Profº. André Almeida, 2020.

ORIGENS DA VILA NATUBA E SUA MÍSTICA


"Nova Soure era uma aldeia de índiosPombal também do mesmo povo, então os mesmos missionários que vieram para Nova Soure também vieram para Pombal! Devido as duas aldeias! Então eles fundaram Nova Soure com a igrejinha, diz que tinha até um pequeno convento e essas coisas todas. No ano que eles foram expulsos, que teve aquele negócio todo, eles enterraram muita coisa que não puderam levar! Eles tinham muitas imagens, ouro e tudo mais, inclusive meu pai falava que quando teve a restauração da igreja de Nova Soure quando fizeram algumas escavações encontraram muitas moedas que eles tinham deixado lá e deve ter coisas que não encontraram! Na escavação não encontraram."  (Relatos de meu primo Migdônio Neto, Araci/Ba, 2020)


Um pouco de História - De índios a súditos d’el Rei


A criação da vila de Nova Abrantes, no litoral da Bahia, a cargo do juiz de fora João Ferreira de Bittencourt e Sá, teve lugar na aldeia do Espírito Santo de Ipitanga, localizada a apenas 7 léguas da capital (aproximadamente 42 Km). A aldeia foi fundada pelos jesuítas em 1558 reunindo majoritariamente índios do grupo Tupinambá falantes da chamada “língua geral” da costa9.
Já a criação da vila de Nova Soure, no sertão da capitania, teve lugar na aldeia de Natuba, fundada por volta de 1666 com índios da nação Kiriri. Para dar maior celeridade à criação desta vila, devido à sua localização, foi escolhido um ministro que residia em Cachoeira, no recôncavo baiano, o juiz de fora José Gomes Ribeiro, pois a aldeia se situava a cerca de 50 léguas (300 km) da cidade de Salvador. De acordo com um esboço elaborado pelos membros do Conselho Ultramarino residentes na Bahia, em 1758, a distância da vila da Cachoeira até a aldeia de Natuba era menor, cerca de 40 léguas, ou seja, aproximadamente 240 km10.
Fonte: http://www.bvconsueloponde.ba.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=275

Texto. Profº. Pesquisador André Almeida, 2020

quarta-feira, 18 de março de 2020

LAMPIÃO NA TERRA DO NATUBA

Correu a sete bocas uma estória contada por traquinas na casa de Dona Sinhá, que Lampião, cabra da peste, mais conhecido como Capitão Virgulino, o tal Rei do Cangaço, esteve por aquelas bandas armado até os dentes, filho de uma rapariga ainda levava estampado nos documentos o nome de nossa família, Ferreira e também o Silva, mas acredito que nem tetra-primos era ele de meu tetra-avô. 
Meu primo Arestides que agora encarnou de vez o Antônio Conselheiro me disse com voz grave Ramalhiana... 
...“...sobre a história de Lampião, não teve e jamais teve contato com nossa família nem dos Pereira e nem dos Ferreira, a história que meu pai contou foi que Lampião chegou na Fazenda do Estado passando no Seremão e foi direto para o Paiaia, agora Antônio Conselheiro sim, inclusive foi compadre de sua bisavó Joana Pereira....” 
E cá estava eu a imaginar tiros de espingarda por toda parte, cachorro correndo e ganindo pelas ruas de areia, a mulherada fechando as janelas escondendo seus moleques debaixo da mesa da cozinha e o magricela do João Grilo tocando sua gaita encantada na pracinha.

TEXTO: Prof. Tadeu Almeida,2020.

Em busca de João Torquato e Joana Pereira

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